Quando olho para trás e penso no começo da minha trajetória, vejo um cenário muito diferente do que os jovens músicos encontram hoje. Atualmente, basta um vídeo no Instagram ou no TikTok ganhar alcance para que um artista consagrado descubra um novo talento e o convide, por mensagem direta, para uma turnê ou gravação. Na época em que comecei, não havia esse acesso. As redes sociais ainda não tinham esse alcance, e a única chance de alguém notar o seu trabalho era se você estivesse no lugar certo, na hora certa, tocando ao vivo.
Foi assim comigo. Comecei com um instrumento simples, de uma marca nacional barata, e com ele fui aprendendo os primeiros acordes. Lembro que só depois de um ano tocando com o Latino é que consegui comprar meu primeiro baixo Fender. Até então, eu usava um Condor, e no Brasil todo músico sabe como é difícil ter acesso a equipamentos de qualidade — são caros, muitas vezes inacessíveis. Por isso, cada ensaio, cada barzinho, cada igreja e cada oportunidade de subir ao palco tinham ainda mais valor: eram chances reais de alguém olhar para mim e dizer “esse cara tem algo diferente”.
Construir uma carreira naquela época era um ato de resistência. Você precisava se preparar constantemente, estar pronto para quando a oportunidade aparecesse — porque ela não avisava. Era preciso tocar com excelência, mesmo que para vinte pessoas em um bar ou trinta em uma festa de bairro. Essas pessoas são plateias, são vidas. E quando você entende que a música tem poder de tocar alguém, o tamanho da multidão deixa de ser a métrica mais importante.
É isso que eu quero dizer a quem sonha em viver de música: não desista. Continue estudando, se aperfeiçoando, se conectando com outros músicos. Hoje as ferramentas são maiores, as redes sociais oferecem uma vitrine que nós não tínhamos. Mas nada substitui estar preparado, acreditar no seu talento e manter a fé de que a colheita vem para quem planta.
A oportunidade pode parecer distante, mas ela sempre chega. E quando chegar, vai encontrar quem não parou de semear.
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